- Você tem que assumir que acabou!
Foi dizendo essa frase que descobri de onde vêm todo meu apego e minha melancolia. Não os momentâneos, mas os característicos. Intrínsecos a mim desde não sei quando. Ou talvez agora saiba.
Estava na cama de minha mãe, lendo um texto para a faculdade. Ela entra e começa a arrumar umas coisas no armário. Digo: "Sábado vou pra casa do Matheus". O espanto só não foi maior pois eu já a havia avisado que queria sair de casa. Mas não deixou de ser afiado. Tanto que me sinto perfurado de alguma forma.
Porque, como, será, e o dinheiro, como é lá, os meninos num são doidões não, você vai perder seu conforto, e eu?... perguntas não tão interrogativas foram feitas e respondidas frigidamente. Não foi tão dificil, já que tinha a forte determinação como escudo a qualquer tipo de sentimentalismo.
Ela começou a chorar, de supetão, logo depois de se deitar do meu lado abraçada à almofadinha. Soluçou e imediatamente se virou, com vergonha das lágrimas, acho. Com vergonha de demonstrar tanta fraqueza perante minha máscara de força.
- Fico achando que você vai embora pelo que está acontecendo. Fico achando que a culpa é minha.
A culpa não é sua, mãe. Ninguém tem culpa, tendo em vista que todos têm. E minha vontade de ir embora é antiga. Os últimos capítulos da nossa novela familiar deram apenas uma boa oportunidade.
Não chorou por muito tempo. Eu não deixei. E não porque a confortei com abraços, beijos e cafunés. Mas com frieza, sem derramar uma lágrima nem trocar um toque sequer. Talvez tenha sido pior que um tapa bem forte no rosto. Mas enquano chorava, mostrou toda aquela tristeza inútil e repetitiva, de quem se apegou a um cadáver em putrefação que, além de memórias, nada mais tem de bom a oferecer.
- Você tem que assumir que acabou!
- Tenho, né, filho? Acabou, né? Tá certo.
Essa frase iniciou o epílogo das lágrimas. Tornaram-se soluços e mais algumas frases tristes que, em alguns momentos, transformaram-se em minha mãe em pé, indo ao banheiro lavar o rosto e se preparando para sair. Não tão forte e segura de si, mas melhor do que estava antes.
Sou um necrófilo. Me apego demais e acabo segurando zumbis por mais tempo que deveria.
Não tenho o mínimo orgulho disso. Tenho raiva de outros necrófilos. E talvez o "tapa bem forte no rosto" seja minha maneira de salvá-los de si próprios e aprender, aos poucos, a estapear meu próprio rosto.
Descobri de onde vêm o apego e a melancolia. Dela. Qualidades em certos momentos. Defeitos corrosivos atualmente. E acho que só eu posso me salvar.
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
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Vai embora não Two! E não seja mal com ela...
ResponderExcluirJá sabe, né? Se precisar de QUALQUER coisa que esteja ao meu alcance, me fala.
ResponderExcluir(Se eu souber que vc precisou de algo que estava ao meu alcance e não me falou, te dou um tapa na oreia.)
cidadã.
ResponderExcluirvou visitar sua mãe.
gosto dela por demais, seu heartbraker.
é, 'vc tem que assumir que acabou'....... ê coisinha difícil de assumi. tb to precisando..
ResponderExcluirenquanto isso, corta o cabelo! huuhasuhuasuhasuhasuh
beijinhos
Tatá também tá aqui, Rá. beirando a onipresença.
ResponderExcluirOlha só, eu achei muito bom o texto e vou comentar freneticamente sobre a sua vida agora, e e´ isso mesmo o que dá ter um blog. Eu não quero nem saber. Agora você vai ter que ler 1 milhão de caracteres da minha psicologia de açougue .. Eu curti a temática!
E se você quer saber, eu sou doutora em quebra de corações maternos. E eu tenho uma teoria muito feia, mas bem confortante sobre isso.
Porque, em se indo embora, elas deixam de esperar você casar ser rico e ter lindos filhos,e passam a esperar você parar de ser criança e voltar, e nunca vão entender que você só foi porque cresceu. Ser mãe, meu caro, é esperar em vão, e gostar disso.
Como dizia nossa amiga Ethel, fica solto. Fica feliz que ela fica mais.
un batcho, garoto fujão