No mundo existem muitos girassóis, não muito diferentes uns dos outros. Pétalas amarelas, miolo marrom felpudo, caule verde, rijo e comprido. Uma única flor. Girando. Todos bem semelhantes.
O que dá um toque especial é o jardineiro. Ou melhor, seu sentimento.
O jardineiro cuida muito bem de sua platinha. Rega, poda, aduba. E o cuidado faz ele pensar que seu girassol é o mais especial. Para o jardineiro, a relação dos dois é tão bela quanto a própria flor. Tão valiosa quanto o mais puro sentimento.
Mas o jardineiro vive angustiado porque, embora devote parte importante de sua vida regando, podando e adubando a bela planta em flor, esta só tem olhos (ou pétalas...) para o sol.
O Sol. Imponente, luminoso, inalcançável. O girassol passa o dia acompanhando-o de corpo inteiro.
E o jardineiro chora. Se encolhe no canto do jardim e abraça o que houver por perto. Se indaga o que fez ou faz de errado. Se é água demais, poda em excesso, adubo além da conta. Olha para o sol, longínquo. O lindo girassol nunca o terá, mas o fita sem parar. Minha querida flor tem-me quando precisa, reconhece o jardineiro. Sou todo cuidados, todo carinhos.
O girassol precisa do sol. É o círculo flamejante que o fornece a luz tão necessária para viver. Não que o faça por carinho ou consideração. Talvez nem saiba da existência dos inúmeros girassóis acompanhado, tal qual fãs, sua tragetória celeste. Mas sem o sol, não há planta.
O jardineiro pensa em criar margaridas, violetas, petúneas, líros, rosas. Essas sim, inclinadas ao seu cuidador, enfermeiro dos vegetais, tão atencioso quanto uma mãe. Mas e todo o cuidado com o girassol? Toda a história? Todo o tempo que passaram juntos? Desde a semente (salva das garras de um terrível hamster), da limpeza e forração do vaso; o intenso cuidado inicial; a escolha do melhor adubo; a primeira poda; as inúmeras regadas; o acompanhar do crescimento; até hoje, com a planta quase completamente crescida, acompanhando o astro-rei, esquecida de alguém...
E enxarcado em lágrimas o jardineiro pára. Vira-se. Observa, apaixonado, sua planta mais uma vez. E desiste. Definha. Assim como o girassol, que sem ser regado, podado e adubado, murcha. Ambos vão tombando, perdendo cor, perdendo vida. O homem no canto, a flor no vaso. E após algum tempo se esvaindo... morrem. O jardineiro de rosto colado à terra, com suas pupílas dilatadas de morte na direção da flor. E o girassol, ainda ereto, desistido de acompanhar o sol, se inclina, já ido, e observa, talvez pela primeira vez, o jardineiro.
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