quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Lobato. Quartel General. Dia 1. Ano 24.

O tenente se aproximou a passos rápidos, ofegante.
- Senhor, senhor. Emergência senhor! Ela está nos deixando!
- Ora, e isso lá é emergência? Ela sempre nos deixa vez por outra e volta pouco tempo depois.
- Mas senhor, desta vez é por seis meses!
- O que?!
- Ou mais...

O diálogo acabou. Depois daquele momento, o general não era nada além de comandos, gritados com toda a força de seus pulmões. Sua primeira ação foi abrir a escotilha do setor vermelho, que estava fechada há anos, e, lá dentro, acionar o botão de alerta W! A maioria dos homens nunca havia sequer ouvido este alarme, a não ser em simulações ou treinamentos de situações de emergência, mas, mesmo assim, aquela sirene era mais alta e mais assustadora do que o estourar de mil turbinas de jato.
Todos pararam o que estavam fazendo e foram, desesperados, buscar orientações. Os mais experientes diziam sempre aos novatos:
- Preparem-se soldados. Esta vai ser uma experiência única em suas vidas... ...ou mortes...

Corriam, mandavam mensagens para todos as bases, apertavam botões e puchavam alavancas como se nada mais houvesse no mundo. Alguns se desorientavam tanto que esqueciam de respirar, e caiam desmaiados.

Instaurou-se o caos. Alguns não conseguiam fazer nada senão rezar, enquanto que outros espalhavam os boatos temerosos de que o fim se aproximava. O general contactou o serviço de informações e ordenou que nada deveria sair de Lobato, caso contrário, seu desespero seria percebido além das fronteiras e o caos tomaria todo o mundo. Fecharam-se todos os canais de comunicação com referências à partida "Dela". Todas as publicidades, as notícias, os websites, tudo foi censurado e substituído por uma mensagem: "Não falo sobre isso".
O general também convocou os monges do "Sistema (muito) Nervoso Central" e os confinou a um jardim nos confins de Lobato, onde não tivessem contato com nenhuma das informações da partida Dela. Lá, soldados os obrigavam a meditar 24 horas por dia. O nome Dela nunca era mencionado.
Foram dadas ainda ordens de capturar e executar todo e qualquer subversor que ousasse incitar a desordem e o medo nos habitantes de Lobato. Milhões foram mortos, e já não havia mais lugar para os corpos.
Enfim, o general deu a ordem máxima: Reforçar a contenção da prisão da Melancolia, onde sugadores de energia positiva e sorrisos se encontravam; os piores criminosos já vistos; eternos inimigos de Estado. Se algum deles escapasse, não haveria quase nada que pudesse ser feito, a não ser desligar todo o sistema e esperar, no escuro e no frio, a volta Dela.
Foi uma era de tensão e desespero ocultos.

Entretanto, o pior de tudo não era o caos, o medo e o descontrole, mas sim o fato de que nenhum daqueles preparativos adiantaria, e o sistema, já fragilizado pela expectativa, entraria em colapso inevitavelmente.

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