Uma das coisas que mais me agrada numa história são bons personagens. No cinema não é diferente. Uma experiência de duas horas aguentando uma péssima fotografia, um roteiro arrastado e uma história clichê pode acabar sendo proveitosa só pela "companhia" do coadjuvante bem bolado e empático ou do protagonista profundo e sarcástico. Não que salve um filme péssimo, mas melhora.
Quando digo "bom personagem" não sei ao certo o que faz dele tão bom. Na verdade acho que existem vários tipos. Ontem fui assistir ao novo filme do Ridley Scott, O Gangster ("American Gangster", no original em inglês) e me dei conta do quando adorei os dois personagens que conduzem a trama. Um policial e um criminoso. O primeiro tem no currículo a devolução de 1 milhão de dólares, enquanto transa com a advogada que tenta o ajudar no processo para ficar com a guarda do filho. Agressivo e de métodos pouco ortodoxos, o personagem de Russel Crowe é contraditório: policial, homem da lei e da ordem, que tortura e engana testemunhas para livrar o parceiro viciado. Talvez ele escolha a moral que o convenha quando bem entende. O outro, um mega traficante de heroína do Vietnã enconde por trás de sua elegância e cavalheirismo um homem violento, sem piedade e rígido, que preza pela família, pelo respeito e pela dedicação ao seu trabalho, seja ele lícito ou não. Frank Lucas (Denzel Washington) não é um personagem tão inovador. Filmes de máfia bem feitos costumam ser bons em mostrar esse tipo de caráter ambíguo, mas perto de Richie Roberts se torna mais realista e interessante. Ao ser pego, Frank dialoga, negocia e consegue diminuir sua pena e é aí que Richie se mostra de maneira ainda mais explícita como o policial defensor da lei acima de tudo, mesmo manchado com seus desvios morais.
Esse tipo de personagens, que parecem pessoas reais, são interessantíssimos. Sem que seja necessário mostrar toda sua história de vida, nós os compreendemos e nos rendemos ao enredo, baseado em fatos reais (o caso d'O Gangster) ou não. Evito usar a palavra "profundo" porque muitos são interessantes mesmo na sua superficialidade, como no caso de algumas comédias românticas.
Entretanto, o deleite com esse tipo de personagem mais "realista" me preocupou ontem. Veja bem: gosto deles pois sinto que poderiam existir perfeitamente. Me passam uma sensação boa de realidade por serem ambíguos, imperfeitos e contraditórios. Reconheço então o paradoxo de "ser humano", o que nos torna interessante, é certo, mas causa imensa dificuldade na vida pessoal e na convivência com outros. Queremos nos encaixar e ser compreendidos, e dircursos ou personalidades contraditórios não parecem ajudar.
Bem, talvez eu esteja apenas sendo contraditório em gostar disso tudo ao mesmo tempo em que receio. Vou procurar ligar pro meu analista...
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
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Vc podia migrar pra crítica de cinema, faz que nem eu: comenta pelo simples prazer de refletir, sem ter engolido uma enciclopédia.
ResponderExcluirAcho esse tipo de personagem tão indispensavel na trama quanto peitos, carros rápidos e peitos denovo. São essenciais ora!
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